quinta-feira, 15 de março de 2012

Aquele bolinho de chuva, por Danilo



Há quase um ano, a cada mês, entro naquela casa com fome de bolinho de chuva. Não de um bolinho qualquer, mas aquele bolinho, daquele jeito, com gosto de infância. O baralho continua em cima da mesa. Os cachorros seguem latindo. Até mesmo a alegria que - juro! - pensei que não apareceria mais, deu as caras novamente. Só mesmo o fogão é que não tornou a acender.
Deve haver algum ingrediente especial! A receita continua escrita no mesmo papel. Os ingredientes podem ser comprados no mercadinho de sempre. Provo o bolinho de chuva preparado por outra pessoa.- Mas ainda está faltando alguma coisa, tia...- Está faltando ela, Danilo, ela...Em memória de Zilda Luiza de Oliveira.
Danilo Pessôa 


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Um abraço!

terça-feira, 6 de março de 2012

Florença, o berço da arte


Não existe cidade mais artística do que Florença. Ao chegar lá nos deparamos com inúmeras esculturas, barraquinhas especializadas em réplicas das principais paisagens de Roma, grupos musicais que se espalhavam pelas esquinas e artistas que envoltos pelo ar boêmio da cidade utilizavam o chão para gravar suas obras de arte. Ao chegar no hotel conhecemos o casal de idosos que cuidava do lugar, com todo esmero e dedicação, que muitas vezes fazia com que nos sentíssemos na "casa da vovó". Mas as trapalhadas não ficaram em Roma. Todo turista deve saber, e se não sabe informo-lhe agora, que a maioria dos banheiros italianos possuem uma discreta cordinha, que apesar de não ostentar interesse se torna irresistível aos curiosos, principalmente os jornalistas. Primeiro enrosquei minhas coisas nela - é bom saber que os banheiros são bem pequenos - e por falta do que fazer, comecei a procurar alguma utilidade para tal. No auge da minha busca escuto alguém bater na porta do quarto e a falar daquele jeito italiano de dizer: o que está acontecendo com a sua amiga?!?! As meninas não sabiam o que responder, primeiro porque não entendiam o que o senhor falava, segundo porque o senhor se encontrava vermelho feito um pimentão. A situação só se resolveu quando uma das meninas entrou no banheiro e perguntou se eu estava bem, concluímos que a cordinha era algum sistema de segurança, em caso de acidentes no banheiro e nunca, nunca, mais tocamos em qualquer cordinha em banheiros
alheios.
 

"...artistas que envoltos pelo ar boêmio da cidade utilizavam o chão para gravar suas obras de arte". 





A Ponte Vecchio é um lugar que todos devem visitar, principalmente os casais apaixonados. A vista é linda. O sol reflete perfeitamente sobre o rio Arno, que possui inúmeros jardins em suas margens. Além disso, alguns artistas se apresentam na ponte, com baladas românticas que encantam os turistas e formam um verdadeiro público no meio da rua das famosas lojas de ouro de Florença. É ali que os casais enamorados prendem seus cadeados, com suas iniciais, e jogam as chaves no rio, para representar seu "amor eterno" (o famoso efeito Moccia). Gravei com minha máquina uma dupla que se apresentava no dia em que visitamos a ponte, o vídeo está abaixo.




O talento era evidente em toda a cidade e não podia deixar de gravar alguns artistas que encantavam quem passeava pelas ruas com suas vozes e performances. Os museus também eram fantásticos, mas o que marcou foi o Davi de Michelangelo. Impossível não ficar embasbacado em torno da obra do famoso artista. Diferente da maioria das esculturas italianas, cujos rostos eram sempre angelicais, Davi possui uma presença e força inigualáveis. Seu olhar é tão intenso que em meio a contemplação esquece-se que se trata de uma escultura. O espectador se vê envolto de um ar quase divino, em que os mais de três metros de altura comprovam sua perfeição em todos os detalhes.

Um abraço,

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A garota invisível


Perdia-se em meio a tantos desejos. Um emprego, um teto, uma viagem, quem sabe alguém para dividir suas angústias. Mas quem se importava? Sabia que continuaria medíocre, com sonhos rasos e objetivos que não ultrapassavam as fotos das revistas. O que mais lhe incomodava era a invisibilidade. Continuaria a mesma garota, com o mesmo olhar, que nada representa. Era apenas mais uma, mais um número, mais uma despesa e mais uma pessoa em busca de algo melhor. Será que a profundidade de seus anseios continuariam invisíveis? Ela mesma havia escolhido seu desfecho, sem essência e sem cor. A barreira que a protegia do mundo era a mesma que a impedia de existir. Sabia que suas dúvidas e medos eram os mesmos de todos aqueles que a cercavam, mas permitia que eles a dominassem e com sua capa invisível trilhava seu caminho, sem decepções e frustrações, mostrando somente para si a grandeza de seus pensamentos.


Um abraço, 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Além do retrato

Começamos 2012 descartando 2011. Ficamos 6 dias nos despedindo de 359 dias que na maioria das vezes foram péssimos. Assim, nos desfazemos de alguns pensamentos, algumas amizades e iniciamos o novo ano com todo cuidado e zelo, que lá pelas tantas de março também é descartado. Todo esse despejo é reunido em álbuns que guardam momentos alegres, engraçados, vergonhosos e talvez dispensáveis. De vez em quando são lembrados e tem seu momento de glória nos álbuns virtuais, mas... um clique e a memória do que se foi desaparece. Semana passada estive com meus avós e em meio ao ócio das férias nos deliciamos com velhos álbuns de fotos. Fotos amassadas, amareladas com aquele cheiro de passado. Vimos o biso e a bisa, o tio que é a cara do sobrinho, meus avós aos dezoito anos, iniciando uma longa história. Em meio aquelas folhas estavam diferentes momentos, diferentes histórias, a memória de uma família, o seu legado. Como descartar tudo aquilo e ignorar o significado de cada retrato? As gerações se comunicam através desses vestígios de memória, que estão escondidos no fundo do armário. Não nos comunicamos somente por meio de palavras, sons, imagens, movimentos. Essa é a essência da fotografia. Em a Câmara Clara, o filósofo francês Roland Barthes vai além e procura na fotografia algo que é capaz de "tocá-lo" independente daquilo que seu olhar busca. Ele diz que "o órgão do Fotógrafo não é o olho (...), é o dedo: o que está ligado ao disparador da objetiva". Desse modo, a fotografia é uma metonímia, uma marca deixada pelo fotógrafo e que afeta o olhar de quem observa. Através daqueles retratos tocamos o diploma que meu avô orgulhosamente segurava e nos deslumbramos com a brisa do mar, sentida pela primeira vez por meu pai, ainda criança. Um novo ano começou, mas as memórias daqueles 359 dias e de muitos outros ainda tocam e ainda são lembrados. Saudosismo à parte, mas são nesses momentos que entendo velhos hábitos, algumas manias e decisões. Olhando o passado entendemos o presente e projetamos um novo futuro.


Um abraço,